Conheça um pouco da história de nosso atelier e de como desenvolveu-se o artesanato em madeira em nossa cidade e região.
Olá!
Meu nome é João Camillo sou artesão, nunca tive outra profissão nem mesmo outra fonte de renda diferente deste meu trabalho, nos últimos 40 anos tenho me dedicado a desenvolver novas técnicas, otimizar a utilização da matéria prima, criação de novos produtos e ensinar o meu oficio. Com apoio da Sutaco (Superintendência do trabalho artesanal nas comunidades) desenvolvi e apliquei um curso de escultura e pintura em madeira (peixes e pássaros) na Associação de Jovens da Juréia no Vale do Ribeira, município de Iguape/SP, através de reportagens em Jornal, revista e televisão vi que o resultado foi positivo e que os modelos desenvolvidos para o curso até hoje são produzidos pelos jovens da Juréia.
Vou contar a história contemporânea do “Artesanato de Silveiras: Pássaros de Madeira”. Foi assim que eu vi acontecer:
Silveiras é uma pequena cidade do Vale Histórico (Vale do Paraíba do Sul) localizada no extremo leste do Estado de São Paulo, sua maior fonte e distribuição de renda é a produção e o comércio de artesanato. Tudo começou no meio da década de 1970.

No ano de 1974, iniciei meu trabalho como artesão, na época vendia minha produção, tapeçarias em fios de sisal e algodão, em feiras de artesanato de Final de semana, como Embú, Praça da República, entre outras. Em 1975, como artesão, morei durante seis meses em São Sebastião na praia de Camburí, litoral norte do estado de São Paulo, lá tive a oportunidade de aprender com pescadores e artesãos locais a esculpir pássaros em madeira Caixeta, nativa da mata Atlântica, encontrada apenas em áreas próximas do mar.
Em 1976 a conselho do meu pai Manoel Camillo, mudei minha moradia que era na capital do estado de São Paulo para Silveiras pequena cidade do interior paulista, aqui reduzindo o custo e aumentando minha qualidade de vida pude dedicar-me melhor ao meu trabalho. Não tenho parentes no município apenas conhecia um morador local, Osvaldo de Paula Cardoso a quem procurei. Fui muito bem recebido e acolhido por todos vi logo que tinha tomado a decisão correta, o Prefeito, na época Hélio Ferraz, cedeu-me um espaço gratuito, muitas pessoas quiseram trabalhar comigo e aprender o que eu fazia, foi formado o primeiro grupo de trabalho artesanal de moradores locais, os novos artesãos aprendiam a técnica que eu usava, Macramé. Desta forma nascia o atelier Entre no Paraíso, após o aprendizado alguns me pediram trabalho, outros desde o início passaram a desenvolver sua própria produção. Os pássaros ficaram para mais tarde, pois a madeira local além de escassa não era apropriada para este trabalho.

Em 1978, entendia que a produção de artesanato era uma boa opção para o desenvolvimento sócio econômico da população local, junto com amigos Silveirenses tivemos a oportunidade de participar da formação de um novo grupo de trabalho chamado Sociedade Amigos de Silveiras ( Osvaldo de Paula Cardoso, Maciel, Dona Rita, João Mendes, Josias Mendes, Gerônimo, Nenê Emboava, Ocilo Ferraz, Chiquinho de Melo, Sebastião Sodero, Dona Ieda, Micota, Hernani Turini, Zé Dito, Orlando do banco, e outros que peço desculpas por não me lembrar). O objetivo do grupo era propor e realizar ações que fizessem a pequena cidade de Silveiras voltar a respirar a esperança de dias melhores, nossa visão era uma Silveiras com mais oportunidade de trabalho para os jovens que, por não encontrarem serviço e emprego iam embora, o artesanato mostrava que poderia ser uma boa opção. Após muitas reuniões, conversas e debates o grupo chegou a uma ideia: – Organizar e realizar uma feira de artesanato nos finais de semana, desta forma nasceu a Silveirarte. Infelizmente foram apenas três edições, a primeira muito festiva com alguns artesãos e um pequeno movimento de visitantes, na segunda edição poucos artesãos e poucos visitantes, na 3ª Silveirarte vimos que precisávamos mudar para sobreviver. Um dos membros da Sociedade, a mente mais criativa do grupo, Hernani Turini, propôs perseverar mas com outro nome e novo formato, de agora em diante chamaríamos nosso evento de ENPONE (Encontro de P…. Nenhuma), a ideia era que, se não viesse ninguém e não acontecesse nada não tinha importância, pois o encontro era de P…. nenhuma, muita motivação e uma nova luz, muitos queriam saber o que era ENPONE e a festa prosseguiu.
Na programação de um dos ENPONES foi idealizado por Hernani Turini, uma Corrida de Carroças Puxadas por Burros, foi o maior sucesso, neste momento, antigos Tropeiros que faziam parte do grupo sugeriram realizar um Encontro de Tropas e Tropeiros. Seja feita a vossa vontade e o próximo evento mudou novamente de nome e transformou-se no 1º Encontro Nacional de Tropas e Tropeiros, o que ninguém podia imaginar era que estávamos realizando a Primeira Festa do Tropeiro, que de tanto sucesso foi replicada por este Brasil afora, hoje a Festa do Tropeiro de Silveiras é um grande evento que acontece todos os anos no último final de semana de agosto.

Em 1981, a produção de macramé (artesanato popular) com os modelos desenvolvidos pelo atelier Entre no Paraíso já é um produto disseminado em boa parte do município, entendemos então que era hora de inovar, baseado nos trabalhos dos artesãos caiçaras do litoral Norte de São Paulo o atelier Entre no Paraíso passou a desenvolver junto com artesãos locais (escultores de pilões e gamelas), o trabalho de representação de pássaros da fauna brasileira em madeira esculpida e pintada à mão, produto até então inédito na produção de artesanato do Brasil, pois os pássaros produzidos pelos caiçaras do litoral eram estilizados tanto na forma (escultura) como na pintura, usava-se pintar araras com a cor roxa combinando com a cor rosa. Pesquisando pássaros da fauna brasileira com a orientação científica do ornitólogo Professor José Hidasi, de Makó, Hungria, fundador do Museu de Ornitologia de Goiânia, o atelier Entre no Paraíso desenvolveu uma nova técnica de pintura , orientou os escultores a dar um novo formato nas esculturas, na utilização da madeira correta (Caixeta), ferramentas apropriadas, no acabamento das peças, na utilização de raízes antigas de arvores que foram derrubadas em outra época e delas agora sobravam apenas os que cernes enterrados, os quais tinham desenhos interessantes que podiam ser usados para compor o trabalho. Assim foi desenvolvido um produto inédito com design próprio e exclusivo, o que contribuiu de forma definitiva para o sucesso da nova realidade: Silveiras passou a apresentar um trabalho que não existia no mercado, um produto com características próprias não copiado de outro lugar, pronto, formatado e exclusivo, não dependeríamos mais de uma feira de artesanato local para escoar a produção, saíamos para vender em grandes centros urbanos o que produzíamos em Silveiras, e com facilidade toda a produção era comercializada em lojas de artesanato. O primeiro artesão a esculpir um pássaro em Silveiras chama-se Dito Paulino (antigo tropeiro) que ensinou a técnica para sua família e vizinhos.

Em 1984, a família Carvalho é orientada no atelier Entre no Paraíso, como realizar este novo trabalho, recebendo instruções de como esculpir, qual madeira usar, como lixar, como montar as peças e depois de participarem de um curso de pintura no atelier, passaram a produzir os pássaros de madeira. Coordenados pelo atelier Entre no Paraíso participaram de feiras em São Paulo e Rio de Janeiro, (UD, Feira da Providencia, entre outras ) com grande sucesso financeiro e de divulgação, o resultado em pouco tempo mudaria sua realidade para uma nova situação financeira de equilíbrio, que proporcionou a compra de terra, veículos, enfim uma nova perspectiva de vida. Estes acontecimentos viriam mudar o cenário da cidade de Silveiras de maneira radical, a família Carvalho foi um exemplo, este fato mostrou para muitos Silveirenses que podiam acreditar neste novo trabalho, muitas pessoas passaram a se dedicar a produzir pássaros de madeira.
A partir de então, profissionais liberais, empresários donos de lanchonete, padaria, casa de material de construção, loja de presentes e até proprietários rurais passam a dedicar-se a produção dos pássaros de madeira, utilizando-se da mesma técnica e desenho dos produtos desenvolvidos pelo atelier Entre no Paraíso, criam empregos e geram renda, destas primeiras “Fábricas de Artesanato” (como eram chamadas por seus donos) saiu uma nova geração de artesãos que logo montaram seus núcleos de produção e produzindo pássaros, aumentam o volume da produção e comercialização do artesanato em Silveiras, a consequência foi que, com melhor distribuição a renda do Silveirense aumenta, e a qualidade de vida dos habitantes locais melhora.

No ano de 1994, a madeira Caixeta usada na produção de artesanato, comercializada em Silveiras era quase 100% oriunda de Paraty, retirada ilegalmente de mangues da Mata Atlantica, o que fragilizava todo o processo da produção de artesanato local que já envolvia um grande número de moradores. Nesta época o Jornal Gazeta Mercantil veícula uma matéria com o título, O Passarinho Ultrapassa o Boi, neste momento o atelier Entre no Paraíso entende que deveríamos procurar pela madeira legalizada, entramos em contato com a Associação de Caixeteiros do Vale do Ribeira, vimos que poderíamos trazer um produto retirado de área de manejo sustentável, legalizado com autorização do IBAMA, houve muita resistência por parte dos empresários silveirenses que nesta época já dominavam o processo da produção do artesanato local, a madeira legalizada era mais cara, foi difícil viabilizar a compra de madeira sustentável, pois era necessário concorrer com o preço mais baixo da madeira ilegal trazida de Paraty , pois esta vinha de local mais próximo, tinha um frete mais barato, precisávamos diluir o custo do frete da madeira legalizada na compra de um grande lote de Caixeta, a qual seria transportada em uma distancia de mais de 400 km até chegar em Silveiras, entramos em contato com caminhoneiros do Municipio de Lorena, e através do Didito, que nesta época trabalhava com transportes rodoviários, o atelier Entre no Paraíso chegou até o caminhoneiro Darcy, ensinamos a ele como comprar o produto e qual a melhor forma para fazer a distribuição e entrega da compra que seria feita de forma associativa pelos produtores de pássaros em Silveiras, a ASAEPA que viria a se chamar ASPA, dava seus primeiros passos, os primeiros artesãos que entenderam que deveriam se organizar em compra coletiva da matéria prima legalizada foram: Isalete, Ozéias, Fabiano, Rosinéia, Marquinho e Camillo, os fundadores da Associação de Artesanato de Silveiras. ASPA

Em 2000, o atelier Entre no Paraíso transforma-se num atelier empresa, precisávamos sobreviver, novamente estávamos sufocados com a concorrência. A produção de todo o município, controlada por empresários, baseava-se num único produto “pássaro de madeira“, iniciamos uma nova fase de “criação e desenvolvimento de novos produtos”, buscamos novos caminhos para a comercialização dos produtos tradicionais sendo que hoje não disputamos mais espaço com nossos colegas artesãos e empresários Silveirenses. O atelier passa a desenvolver e produzir brinquedos educativos de madeira e peças de utilidade e decoração.
Em 2006, construímos nossa nova sede com o formato de um casarão de fazenda, da época do café, esta localizada no Portal “Silveiras” do Vale Histórico, recebemos amigos, turistas e todos os que queiram conhecer o município de Silveiras, o Vale Histórico, a Serra da Bocaina, suas histórias e seu artesanato. Acreditamos no Desenvolvimento Sustentável da Região através da Atividade Econômica do Turismo. Mais uma vez com pioneirismo, transformamos nosso atelier em um Atrativo Turístico, sabendo que seremos modelo para a mudança de muitos na cidade e região.

Em janeiro de 2010, o atelier esteve presente na reunião de fundação da ARCCO (Associação Roteiros Caminhos da Corte), colaboramos com a criação do nome da Associação e do desenho do mapa que hoje é usado como retrato de divulgação do “Circuito Turístico Vale Histórico”.
O atelier Entre no Paraíso sempre atuou, assumindo compromissos para que a população de Silveiras seja incluída no processo de produção de artesanato. Hoje podemos dizer que o atelier atua regionalmente procurando contribuir para que o maior número possível de moradores da região sejam incluídos na atividade econômica do turismo que pretendemos seja um novo Ciclo Econômico para o Vale Histórico SP.
Nossa principal característica é: Ser Artesão no que de mais autêntico pode expressar esta palavra, a criação.
Ninguém pode tirar do artesão a capacidade que Deus lhe deu para criar.
João Camillo
